quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O homem sofre em silêncio, porque se se queixa é um maricas.



                                          48 Things Men Hear In A Lifetime (That Are Bad For Everyone) 

 Apesar de toda a "evolução" da igualdade entre os dois sexos que ao longo dos anos tem vindo a sedimentar-se, é,  ainda hoje, possível ver inúmeras discrepâncias. E, apesar do que possamos pensar, sobre ser a mulher o sexo mais frágil ou o mais "atacado", o homem é também um grande alvo na sociedade.
Tal como o presente vídeo exemplifica, é esperado do homem inúmeras coisas para que ele seja de facto visto como um Homem, o sexo forte.
Tanto o físico como a forma de agir têm padrões que identificam O mais forte, O bem sucedido. Enquanto a mulher é vista como um ser de emancipação, no homem há uma expectativa onde ele deve ser de origem um vencedor, um pilar de virilidade e robustez e bem sucedido . Do homem espera-se automaticamente  que ele seja um animal forte. E enquanto se valoriza o papel da mulher ainda como o sexo que se emancipou e lutou e venceu barreiras, continua-se na expectativa que o homem não pode falhar e quando algo no seu comportamento revela falta da "pseudo-virilidade"que dele é esperada, é lhe apontado o dedo e rebaixado, sendo equiparado à fraqueza do sexo feminino. Desta forma não só se rebaixa o homem como também se volta a colocar a mulher numa posição de fraqueza.


  Portanto, não é fácil para o homem ser bem sucedido na sua própria afirmação, quando o seu fisico ou a sua forma de estar na sociedade são constantemente postas em causa. 

Dando mais alguns exemplos bastante simples mas clarificadores do assunto em questão:

Quando num casal a mulher é mais alta do que o homem ( são raros os casos que se encontram, talvez decido a este tipo de criticas)
Quando a jogar á bola entre crianças dos dois sexos e o rapaz perde a bola na finta contra a mulher, é imediatamente gozado pelos amigos.
Quando numa relação o homem apresenta comportamentos submissos e a mulher um papel mais activo, a sua postura como "macho" é posta em causa. Há até a tipica frase " Lá em casa é ela que veste as calças.
Então tu deixas?
Quando todos bebem uma cerveja e há um que tem um cocktail de frutas e colorido.
ETC:................


Matéria


Estamos tão embebidos no nosso próprio “eu”, que desfocamos os problemas existentes, visíveis na sociedade actual. Pensamos tanto na nossa própria condição, que nos esquecemos que existe inúmera gente ao redor do mundo, numa condição menos favorável que a nossa.
Deste modo, apesar de a igualdade ser um dado adquirido a nascença, lamentavelmente, vimos a diferenciação que existe no seio comunitário onde estamos envolvidos, bem como nas diferentes classes sociais. Esta certeza indubitável coloca-nos num ponto interessante, isto porque apesar de haver sempre alguém que se encontra melhor que nós, por outro lado, também existe sempre alguém, que se encontra numa situação pior que a nossa.
Somos constantemente “bombardeados” com informação através dos “Média”, onde é evidente a condição actual do mundo em que vivemos, e que mundo é esse? “Os ricos cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres”. A desigualdade na distribuição da riqueza e no nível da qualidade de vida, atingiu actualmente proporções irreversíveis, pela qual o ser humano não pode ignorar, nem tão pouco negar isso.
Recentemente, houve uma notícia divulgada num canal televisivo português, que revela os extremos em que se encontra a sociedade, bem como a ausência de elementos, que para muitos podem ser motivo de felicidade, e para outros apenas vulgares e banais. Resumidamente, foi mobilizada uma iniciativa da parte de uma grande massa associativa do desporto em Portugal, visando a entrega de chuteiras a crianças africanas, que jogavam descalços, ou apenas com uma sapatilha, em terra batida numa pequena povoação. Após a entrega ao grupo que ali se encontrava, aconteceu algo curioso, chegaram mais crianças, e aqueles que já tinham recebido as chuteiras, decidiram partilhar uma das chuteiras com os seus amigos.
Por mais simples que seja este relato acontecido recentemente, faz-me pensar, que tanto as diferenças sociais e em casos mais extremos, a miséria, fazem parte do nosso quotidiano por culpa do ser humano. Porquê? Por não se seguir o exemplo destas crianças que mesmo tendo pouco, ou quase nada, passando por inúmeras dificuldades na vida, dão esse pouco que têm, partilhando com aqueles que mais precisam, ou até de igual forma. Apesar de o mundo dar bastantes voltas, gira apenas num sentido, e hoje podemos ter, mas amanhã podemos ser nós a necessitar, por isso, não devemos “virar costas” a um assunto que toca a todos enquanto portadores de igualdade, que no fundo é inexistente, perante a luxúria e exibição dos bens associados, em oposição para com a miséria existente.

Quanto melhor seria o mundo se houvesse mais igualdade social, e não existisse este desnivelamento de cidadão para cidadão. Na verdade somos todos feitos da mesma matéria, mas não somos todos a mesma matéria.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Línguas e ideias


Le anime hanno un loro particolar modo d'intendersi, d'entrare in intimità, fino a darsi del tu, mentre le nostre persone sono tuttavia impacciate nel commercio delle parole comuni, nella schiavitù delle esigenze sociali.
As almas têm uma maneira específica de se entender, de entrar em intimidade; até ao tratar-se por “tu”. Simultaneamente, as nossas “personas” vivem atropeladas pelo comércio das palavras comuns, na escravidão das exigências sociais.

(Luigi Pirandello, Il fu Mattia Pascal)

A língua é um instrumento necessário para a comunicação. A língua é criada por ideias, mas, ao invés, acaba ela própria por criar ideias, ou seja, depois de uma certa altura, construimos pensamentos usando palavras, identificando conceitos com palavras e, com isso, cria-se uma rigidez que orienta os pensamentos. Tomemos como exemplo: a sociedade ocidental baseia-se numa divisão entre os sentimentos e a razão,  entre “coração” e “cérebro”. Contudo, na sociedade japonesa, a palavra mais usada para identificar os dois é (“kokoro”), normalmente  traduzida por “coração”. Na verdade, a palavra significa também “mente”; portanto,  para os japoneses trata-se mais da “interioridade” do indivíduo; tanto a razão como os sentimentos pretencem ao (“kokoro”). Penso que, com a possibilidade da existência desta palavra,  podiamos desenvolver uma maneira de pensar completamente diferente.
Claro que a comunicação não pode prescindir, para ser eficaz, de palavras esquematizadas, claras, específicas. Contudo, como na comunicação  e nos pensamentos, construimos os conceitos também por palavras, e os vamos desenvolvendo camada sobre camada, adicionando outros conceitos constituídos sempre também por palavras. Tal significa que as palavras influenciam os pensamentos e que acabamos por construir realidades parcialmente cegas, que não conseguem chegar completamente ao ponto mais verdadeiro da realidade.
Se estivéssemos,  de repente, a falar uma língua que nos fosse desconhecida, que não é a nossa língua materna, talvez pudéssemos sair parcialmente deste universo. Os nossos pensamentos tornar-se-iam mais indefinidos, e a expressão deles menos eficaz. Mas, pelo contrário,  seria mais consciente, mesmo que essa consciência não pudesse ser transmitida e mesmo que no tentar definir essa consciência, pela palavra, parecesse que os nossos pensamentos, de repente,  se esvaziavam.
 

O meu mau feitio


Já me disseram muitas vezes que tenho «mau feitio». Amigos, familiares, pessoas com mais intimidade ou confiança…; Às vezes até agradeço. Por vezes têm razão. Nem sempre.

Há vezes e vezes, alturas e alturas. Todos merecemos o «benefício da dúvida». Certo é que todos merecemos respeito. Temos que ter pelo menos uma réstia de confiança na nossa própria evolução, crescimento, envelhecimento, maturidade, ou lá o que lhe queiram chamar. Talvez auto estima.

Foi num Verão passado, após um dia profissionalmente intenso, híper-stressante e como habitualmente, quase infernal. No fim de uma tarde, depois de horas vazias dentro de um carro num trânsito absurdo que nos anula qualquer vontade ou alegria, nas proximidades do local onde tenho os «tarecos» arrumados e me deito para dormir, sentei-me num jardim para um momentâneo período de simples reflexão, «relax», descanso ou só respirar fundo.

Após ter deambulado por um bocado, fui sobressaltado por uma algazarra canina que era emitida no meu tardoz e que há primeira vista não consegui apreender. Observei melhor e reparei que na fresta de um portão de garagem, junto ao chão e saliente para o exterior, estava a cabeça castanha de um pequeno cão.

O portão que era eléctrico, automático e possivelmente sem célula de segurança para se desligar em caso de perigo, continuava gradualmente a intensificar a força de fecho; não parava.

Todo o corpo do canino estava no interior e o pobre debatia-se com a fresta que era cada vez menor e que o impedia de se soltar. Por ali nem o crânio nem o corpo passariam. Só o seu pescocito impedia o portão de se fechar totalmente e passar a ser a sua guilhotina. Seriamente entalado, tinha ali um feio problema.  

Corri para o local para tentar ajudar o bicho. Retive de imediato o portão, colocando umas pedras na fresta e comecei a pensar no que fazer enquanto tentava acalmar o bicharoco. Nisto aproximaram-se esbaforidos e em grande correria dois miúdos Luso-africanos, a gritar:

 -Preto, Preto! Era o cãozito deles.

Depois de se aperceberem da situação, aflitos e bem-intencionados sugeriram que puxássemos o Preto pela cabeça; utilizássemos azeite para tentar que o corpo escorregasse; sabão, disse um: sabão é melhor… expliquei-lhes: - não, não era essa a solução.

Bati ao portão, chamei, gritei, os putos idem, o cão gania continuamente…  

Senti movimento no interior da garagem e tentei espreitar pela fresta. Vi pouco, um vulto, pensei que fosse uma criança, talvez assustada ou sem saber utilizar a chave ou os comandos, ou talvez alguém idoso ou impossibilitado por qualquer razão física de accionar ou inverter o mecanismo da maquineta; sei lá eu já o que pensei. O cão entretanto parou de ganir. Talvez pela presença dos miúdos ou por o portão ter parado de o esganar com as pedras que lhe apliquei. Espreitei uma segunda vez e lá vislumbrei um par de sapatos com aspecto masculino, com dimensão para um adulto, de um lado para o outro, em movimento; Percebi que quem estava no interior, não era uma criança pequena, nem um idoso e pela característica do seu movimento não me pareceu deficiente físico; era um homem, isso sim. Talvez fosse demente, ou cego, ou surdo, ou mudo, Esse possível adulto nada fazia e nada respondia. Enigma!  

Decidi chamar os bombeiros e mencionei-o em voz alta; acto imediato: o portão abriu-se soltando o cão para alegria dos putos e descanso meu. Surgiu então por detrás de um grande BMW azul-escuro, um senhor, bem vestido, com fato e gravata e óculos escuros, a quem agradeci a amabilidade de ter aberto o portão e a quem perguntei o que se tinha passado. Nada respondeu. Perante o seu insistente silêncio e arrogante indiferença, desisti. Com a certeza que o cão estava bem decidi afastar-me do local. Após ter dado alguns passos direcionados para a minha vida habitual, ouvi, num quase murmúrio e daquela que só podia ter sido a voz do dito senhor:

- Da próxima não o voltam a ver, seus escarumbas; no meu carro não volta a mijar!

-Estaquei! Senti o punho direito a fechar-se, cada vez com mais força. Tensão e angustia. A respiração alterou-se. Senti novamente aquele tremor que começa no estômago e chega aos calcanhares, ligeiro mas muito intenso, crescente, que nos faz esquecer tudo. É gradual. É de «perder a cabeça». É um «de repente» em que a adrenalina «chega às orelhas» e pronto, acabou-se tudo… Enfim, tenho mau feitio…

Não me virei. Respirei fundo. Não penses, pensei. Não penses no animal. Já nem contei até dez ou vinte ou trinta e dois e meio por causa daquela besta. Certifiquei-me que os putos não tinham ouvido o mesmo que eu. Agi por instinto. Não me virei. Respirei fundo.

Chamei os dois miúdos bem alto.

-Querem vir comer um gelado?

-Boa! Gritaram.

Acabámos por comer quatro porque os cães também gostam de gelados.   

 

analfabetismo politico

A ideologia tem uma relação extremamente íntima com a alienação que para Marx, faz com que as pessoas não se percebam como “... sujeitos e agentes, os homens se submetem às condições sociais, políticas, culturais, como se elas tivessem vida própria”. Acreditam que a sociedade não foi instituída por eles; não se reconhecem como sujeitos sociais, políticos, históricos, como agentes e criadores da realidade. Exemplo clássico disso é a política. A cada escândalo político, as pessoas reclamam, falam mal, mas não fazem nada de concreto a fim de mudar essa realidade, pelo contrário! A cada eleição votam nas mesmas pessoas em troca de Bolsa Miséria e afins. Por mais que entendam que o problema é sistêmico, ou seja, que é necessário que as regras políticas sejam mudadas, esperam que os corruptos façam isso por eles. Ou seja, nunca vai mudar! Isso se chama “analfabetismo político.Bretch defendia que o analfabetismo Politico como aquele que não ouve, não fala, nem participa nos acontecimentos políticos. Dessa definição Brechtiana, a única característica que sobrevive nos dias atuais, e o proclamado e contraditório odio a politica. O analfabeto politico da atualidade fala e participa dos acontecimentos políticos, ou melhor mesmo sem se aprofundar nos acontecimentos em questão mesmo partindo de preconceitos, boatos ou mentiras descaradas sobre os tais acontecimentos. Em consenso entende-se que a ideologia é necessária para a conceção de construção ou transformação societal, e que cada cidadão possui uma ideologia, um ideal perante a sociedade, ao qual vive.

Black Friday the 13th


Black Friday the 13th é um novo filme de Terror que estreou há pouco tempo, dia 27 de Novembro 2015. Peço desculpa pelo termo novo, afinal tem saído um novo todos os anos, sempre por volta desta data, mais dias, menos dias... O que interessa é que o pretexto é sempre algo de novo, no entanto acaba por ser mais do mesmo. As vítimas mudam, até o ambiente ou a própria anunciação do destino do assassíno psicótico, mas ele acaba sempre por ser o mesmo, que só saceia a sede com o sangue dos outros. As gerações passam, mas desde dos anos 60 que elas se submetem a um sistema como porcos num comedouro, ou neste caso quase como chimpanzés, que são animais conhecidos pela sua agressividade perante outros que os rodeiam, mas mesmo assim, sendo primatas de certeza que não matariam outro por meros objectos como os muitíssimo avançados seres humanos o fazem. Realmente são puras necessidades de um ser quase que inferior a primata, pois a ilusão funciona tão bem que um ser humano é capaz de tirar a vida a outro por meras materialidades que podem ser obtidas facilmente noutra linha de tempo. Esta onda de mega descontos que surge nas lojas, durante a famosa Black Friday, é um fenómeno anual e mundial. Onde magicamente os diversos produtos contidos no grande leque da actual sociedade de consumo são liquidados da melhor forma, vendas em massa, e as respectivas ovelinhas lutam pelo que é seu, segundo os direitos humanos... mas é melhor não entrar por aí. Mas após o juntamento do rebanho, a tentativa de uma distribuição controlada da entrada dos indivíduos na zona dos comedouros é raramente conseguida. Onde muitas vezes o rebanho decide debandar sobre o pastor para conseguir chegar à comida primeiro, para ter mais comida, sem sabendo que no fundo só está a seguir um outro pastor que lhe força a comer, o que comer e quando comer. Ou mesmo que terá que matar para comer. Felizmente não é necessário pagar para visualizar este bom filme de terror, pois as pessoas irão sempre ter mais fome.

"Tios"

“Sou um bocado diferente, ou até mesmo estranha por pensar assim. Não me enquadro no padrão, nem adiro ás modas, que a maioria das  raparigas com “sucesso” da minha idade, aderem.”
O tempo vai passando, ganham-se novas experiências de vida. Agora reflicto melhor acerca do tema e tiro as minhas conclusões.
Quando atingi os 14 anos, por volta dessa altura, senti uma necessidade de adesão a uma moda e padrão de vida juvenil. Deixar de ser uma criança inocente e despreocupada com o que os outros pensavam, para passar a ser uma jovem preocupada com a sua imagem e se me aprovavam como jovem “fixe” e crescida. Nunca aderi por completo, mas não fiquei de fora em relação aos ideais. A sociedade e o sistema ideológico em que vivemos, especialmente nesta altura em que é mais fechado, parece não ter escapatória e, parece ser a única opção de vida que temos como escolha para sermos aceites. Levou-me por vezes a pensar eventualmente era eu que estava errada.
Hoje, olho para grupos de jovens, nomeadamente os das minhas escolas antigas, e noto que todos são iguais. Digo iguais na aparência. As personalidades diferem, mas todas estão inseridas naquele padrão da classe dominante. Facilmente vemos a construção do futuro deste grupo de pessoas (as experiências de vida, o modo de vida, família, amizades, hábitos que irão ter...). Falo deste grupo de pessoas, dirigindo-me mais propriamente á classe burguesa de Lisboa, os “tios”.
Todos ele seguem a ideologia, que nela tem presente valores católicos.  Por exemplo, todos os jovens usam um terço de prata ao pescoço, e a maioria deles não reza ou vai à missa frequentemente. Apenas têm para parecer. Ser para parecer. Tal como no texto de Fiske ele afirma:

“(...) o trabalho ideológico do “senso comum”, um trabalho efectuado pela própria expressão, pois o seu sentido não é certamente “comum” mas sim baseado numa classe, por mais disfarçada que esteja a sua origem de classe, nas ideias da classe dominante.”

Perda de tempo

Desde o abrir desta página que não penso em mais nada sem ser no que vou escrever aqui. Que situação irei contar que seja minimamente interessante e será que vai servir? Dou por mim a pensar demais, o que gera normalmente pensamentos completamente desnecessários e uma perda total de tempo. Quando começo a pensar demasiado, começam a surgir pensamentos, ideias, críticas e acabo comigo mesma a questionar-me sobre as coisas mais estúpidas e insignificantes, que não contribuem nada para o meu bem-estar e são apenas espaço a mais na minha cabeça. Mas, sendo assim, será que não vale a pena perder um pouco do nosso tempo para pensar nas futuras ações que vão influenciar o nosso dia-a-dia? Já estive neste dilema demasiadas vezes para estar agora a debater sobre ele, mas realmente, será que pensar demasiado é mau? Será que, talvez, fosse melhor agir sem pensar muito sobre a situação? Ou será que nos devemos sentar, engolir o orgulho e a preguiça, e pensar realmente sobre o que está perante nós? Porque afinal de tudo, as consequências das nossas ações, vêm das decisões que tomamos previamente. Por isso pára e pensa, nem que seja para pensares em parar de pensar.

o desejo ultrapassa a necessidade

Com o Natal à porta, chegou o tempo em que as crianças escrevem a carta ao Pai Natal, onde pedem tudo e mais alguma coisa, e esperam ansiosamente pela chegada desta figura mítica, para que possam abrir as prendas.

Cada vez mais a época natalícia é vista como uma época de consumismo exorbitante. O dia de Natal recheado de simbolismo e tradição vai-se perdendo e dá-se lugar ao chamado 'dia das prendas'. É tempo de comprar e de consumir. A publicidade é talvez a melhor arma deste tempo. Acabamos por mergulhar nela e de forma inconsciente somos levados a adquirir determinados produtos, mesmo que estes possam ser considerados coisas supérfluas.

Este consumo existe atualmente mesmo sem termos consciência dele. Acabamos por ser seres inconscientes do mundo que nos rodeia. Vivemos numa incessante insatisfação e busca pelo ideal. E esta é talvez a altura ideal para seguir tendências que nos são diariamente implementadas e que nós acabamos por interpretar como perfeitas.

O desejo de ter um determinado produto pode confundir-se desta forma com o desejo de alcançar uma determinada ideologia que nos é imposta, mesmo que inconscientemente.
Estamos perante uma sociedade que dá cada vez mais valor aos objetos. Acabamos por depositar significados irreais a objetos que não merecem nem metade do valor que nós lhes impomos. Já ninguém quer ter uns sapatos, um telemóvel, um computador ou uma simples blusa que estão historicamente ultrapassados. Tudo quer seguir novas tendências.

Isto porque ao seguirem estas tendências, acabam por se sentir mais integrados e consequentemente aumentam a sua auto-estima. No fundo estas publicidades levam-nos a pensar, mesmo que inconscientemente, que ao possuirmos aquele produto teremos uma vida melhor e seremos também pessoas melhores e mais felizes.

Estamos perante esta realidade. Onde somos manipulados pela publicidade, pelos media e por um marketing de consumismo que nos leva a uma materialização gigante. Onde tudo o que queremos é ser perfeitos e ideais e onde temos de ter tudo o que acabou de sair e o que é de última geração, porque só assim conseguimos ser realmente felizes. Somos seres ideológicos que pretendem seguir tendências e acabam condicionados pela sociedade que nos rodeia.

Acabamos por ser o que consumimos, acabamos por nos transformar numa coisa que não somos. Seguimos tendências. Acabamos por compor uma personalidade que não é a nossa, que não pertence a ninguém, pertence a um mundo que é inexistente.

Vive-se uma época em que o desejo ultrapassa a necessidade.

O Corpo Alienado

O consumo tornou possível a criação de um novo imaginário associado ao poder do indivíduo sobre si próprio, ao controlo individual sobre as condições de vida. Os prazeres passam a estar ligados à aquisição de “coisas” que nos dão “mais-poder” sobre a organização das nossas vidas, com um controlo acrescido sobre o tempo, o espaço e o corpo. 

De forma individualista podemos construir o nosso modo de vida e o nosso uso do tempo, acelerar as operações da vida corrente, aumentar a nossa capacidade de estabelecer relações, prolongar a esperança de vida, corrigir as imperfeições do corpo, gerando satisfação de exercer domínio sobre o mundo e sobre si mesmo.

Actualmente o corpo é considerado uma matéria a corrigir ou a transformar, como um objecto deixado à livre disposição do sujeito. A cirurgia estética, a procriação in vitro, mas também o consumo de psicotrópicos com vista a «gerir» os problemas existenciais, ilustram esta relação individualista com o corpo. O sujeito quer escolher o seu humor, controlar a realidade quotidiana, controlar as suas alterações emocionais. Cada vez mais, afirma-se a soberania pessoal sobre o corpo, confiando na acção de substâncias químicas, que modificam os seus estados psicológicos «a partir do exterior», sem análises nem trabalho subjectivo, contando apenas com a eliminação imediata das contrariedades.

Por outro lado, o desejo individualista de controlar o corpo e o humor, ilustram também uma certa impotência subjectiva, o sujeito que renuncia a todo o esforço pessoal, entregando-se a produtos químicos que agem sobre ele, sem ele. As soluções para os males já não são procuradas nos nossos recursos interiores, mas na acção das tecnologias.

O interesse obsessivo que temos pelo corpo, não é de modo nenhum espontâneo e “livre”, obedece a imperativos sociais, como o “linha”, a “forma”, etc. Estes interesses, impulsionados por a mass media e pelas classes dominantes,  criam um poder hegemónico sobre as ideologias de uma sociedade. Adota-mos perspectivas que não as nossas e queremos ser a imagem ideal que as classes dominantes representam.

Fide



Ao olharmos ao nosso redor, num mundo deteriorado, sem valores éticos e morais, onde a ausência de igualdade social predomina, é difícil continuar a alimentar esperança num futuro e depositar fé no que realmente ansiamos.
Com efeito, muitos são os que banalizam a fé nos nossos dias, não lhe incutindo o devido valor, pois necessitam de uma prova real, ou uma evidência para crerem que algo possa acontecer, ou até mesmo mudar. Cada vez mais, na sociedade contemporânea, o ser humano inibe a fé, desviando “os holofotes” para prazeres momentâneos e um misto de emoções e sentimentos, crédulo que o que importa é viver o momento, desfrutá-lo, e isso é implícito aos nossos olhos. Porém a fé não é a credulidade, nem tão pouco um simples sentimento, mas surge cada vez mais estereotipada, que de uma forma tão subtil se desprende do seu verdadeiro significado, adquirindo um novo sentindo, como podemos comprovar no excerto de texto “ A Indústria Cultural” de Adorno e Horkheimer
  Segundo as sagradas escrituras, a fé, é baseada em dois factores: primeiro em, “ realidades não observadas”, e segundo, envolve “ coisas esperadas”, o que indica acontecimentos ainda por acontecer. De tal modo que a verdadeira fé, só pode ser possível através de confiança bem alicerçada, interligada a uma forte convicção.
Mas serão estes dois factores suficientes para mudar esta nova fé estereotipada?
 De forma alguma! A verdadeira fé exige mais que esses dois factores, necessita ser “alimentada”, expressa em acções, transcendendo o mundo espiritual. É portanto a base da esperança e da evidência mesmo que ela não seja fisicamente visível, de tal modo que podemos exercer uma posição convicta e preponderante perante realidades que não podem ser alcançadas, onde primeiro colocamos os pés, e só depois surge a base que nos sustenta.
Ao estarmos plenamente conscientes e convictos, a fé pode-nos levar a “mover montanhas”, isto é, não só nos serve como escudo protector, ajudando-nos a enfrentar qualquer desafio, bem como a suportar adversidades, como nos possibilita também, a alcançar objectivos mais elevados e uma vida gratificante.
 No entanto, através desta fé estereotipada, o homem procura sucumbir todas as necessidades de carácter espiritual e emocional, anteriormente referidas, optando antes pelo divertimento, pelos prazeres momentâneos, pondo de parte os valores e os bens superiores.

Cabe a cada um de nós, enquanto membros desta sociedade contemporânea, optar pela verdadeira fé, ou pela fé estereotipada.

Gestos…imagens..

Gestos…imagens..”



O meu objetivo é relacionar a minha experiência pessoal de surdez e a língua gestual como um sistema de símbolos. As pessoas surdas necessitam de visualizar as imagens (significante e significado) para a necessária aquisição de linguagem. A importância das imagens é primordial na vida de Surdos porque elas utilizam diariamente a visão para compensar a falta de audição. Não é por acaso que o alfabeto surdo é representado por meio de símbolos e imagens.
Ser surda implica ser uma pessoa muito “visual”, isto é, as pessoas surdas são aquelas que utilizam uma comunicação espacial-visual.

Os surdos têm a sua cultura expressa através de símbolos particularmente visuais cuja maior representação é a Língua Gestual, que não é apenas mímica nem gestos, é captada pela visão e produzida pelos movimentos do corpo especialmente as mãos. Com a privação de audição, são os outros sentidos que nos põem em contato com o mundo que nos rodeia, principalmente através da visão, e é aí que entra a importância da imagem.
No contexto do estudo da Cultura Surda, há interesse especial particularmente no papel dos símbolos que representam a realidade e expressam a cultura, pois são criados pelo homem e duram mais do que o tempo de vida de um ser humano.

Um símbolo poderoso é a palavra ou o gesto que, enquanto unidade linguística base, permite uma comunicação estruturada e a perpetuação dos significados que eles encerram.
E é aí que entra a retórica da imagem, logo o significado da retórica é arte de falar bem, de se comunicar de forma clara e apresentar ideias com convição e isso é algo que eu relaciono com a Língua Gestual Portuguesa como um sistema de gestos, para mim, os gestos representam os símbolos ou as imagens.

É, principalmente, através da visão de imagens que aprendem a comunicar e, portanto será mais eficaz a aquisição de uma língua visual, onde o som não desempenha qualquer papel produtivo.
Qualquer sistema de signos necessita da mediação da língua, com o seu significante (nomenclatura) e significado (uso ou razão). A imagem dirige sempre o leitor a um significado. A palavra e a imagem têm uma relação de complementaridade.

Em publicidade, a significação da imagem é, sem dúvida intencional. A imagem é sempre ambígua, porque está normalmente acompanhada de algum tipo de texto. A imagem revela uma mensagem, cuja substância é linguística: as legendas e as etiquetas.

A mensagem é sempre linguística, contudo as letras são apenas representações gráficas dos sons.

No meu mundo de silêncio a imagem representa para mim “o som”.

Made in China



Dei uma volta ao meu guarda roupa. Quis lavar umas quantas peças. Umas novas acabadas de comprar outras velhíssimas, algumas do tempo da minha mãe. Ao olhar para as etiquetas para ter cuidado de não as estragar na máquina de lavar reparo que praticamente metade da minha roupa (principalmente a nova) com uma etiqueta “Made in china”, “made in Vietnam”, “made in Bangladesh”, entre outros.
Faz-me pensar imenso sobre a proveniência da nossa roupa, onde é realmente feita, como é feita.
No entanto o assunto que irei debater incide sobretudo sobre os “made in china”. Na minha opinião, desde que me lembro, os artigos “made in china” sempre nos provocaram uma associação a um artigo de baixa qualidade, bugigangas, e algo duvidosos. Feito em mão de obra barata, de produtos baratos e com um fácil rendimento numa produção em serie.  Estes são artigos aos quais geralmente associam ter uma vida curta. E suponho que foi mesmo essa a intenção. Uma vida curta para num espaço de 1 a 3 anos voltar a haver a necessidade de se comprar um novo artigo semelhante ao anterior ou simplesmente deitar fora e adquirir algo novo, da moda nova.
 A Carga tributária menor, o câmbio desvalorizado, mão de obra abundante e a política agressiva de comércio exterior são justificações para este fenómeno. É à conta disto que  muitos  sectores fecharam em inúmeros países. Portugal e Brasil são os exemplos mais próximos
Mas ao que parece, as coisas mudaram e agora ver uma etiqueta “ made in china” nem sempre é um mau presságio. Existem hoje em dia grandes marcas de luxo e sofisticadas, produzidas na china. Computadores e laptops da HP/Compaq, semicondutores e chips da Intel, ipods da Apple, telefones da Motorola, roupas da Lacoste, Ralph Lauren, carros Audi, etc.
O titulo é “ A etiqueta “made in china” vai virar sinonimo de luxo?” dá-nos logo um pico de curiosidade, fortalecendo-o com apenas os primeiros parágrafos:
Para satisfazer o apetite de uma nova classe alta no país, marcas "made in China" que já apostavam em produtos de qualidade e conhecem o gosto desses consumidores começam a despontar como autênticos competidores no mercado de luxo.”.
Estará afinal a mudar toda esta nossa ideia de ver “made in china” como um produto de fraca qualidade, com uma vida efémera e a um custo baixo?
O meu olhar sobre estas etiquetas está certamente a mudar, tal como a minha forma de ver o produto e as relações económicas no mercado no que toca a qualidade/preço. Ao que parece ter um etiqueta “made in china” nem sempre irá significar que o produto seja barato e de fraca qualidade.

Igual

Acordo,  e dou inicio ao complexo conjunto de acções, que num fluxo de inconsciência, me conduzem à inserção na homogeneidade do mundo, completamente alheia ao automatismo de cada gesto, até de cada pensamento, e o quão estou condicionada à realização de cada um deles.  

No decorrer deste ritual, na correria incessante que acompanha o passo de todas as outras pessoas, o relógio cujos ponteiros me impedem de adiar o começo de um novo dia, entro no eléctrico e a fluência de pensamentos não sofre nenhuma alteração, contrariamente, mesclam-se com os sons característicos ao movimento do mesmo.  Até que o eléctrico deixa de produzir som, e como que instantaneamente a minha mente é transportada para o presente.  Fomos parados por um semáforo. Apercebo-me da quietude que me rodeia, como se conectado à translação do comboio, estivessem todas as pessoas, e a súbita paragem tivessem conduzido à estagnação do tempo no seu interior.  Ninguém se movimentava e o único ruído provinha do mundo que continuava a acontecer e do ranger permanente das madeiras estruturais do comboio e apenas o respirar me assemelhava a tantos outros. Abstraindo-me da razão pela qual estava naquele eléctrico, do atraso que fazia a minha pulsação mais rápida e olhei à volta, senti que não me lembrava da última vez que o tinha feito. E naquele momento questionei a razão pela qual não o fazia mais vezes. Embora a resposta fosse óbvia para mim, motivo de reflexão frequente. Mas não deixava de ser incompreensível.  Incompreensível, o porque de estar ali, o porque de ser igual aos outros.