segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Memória e a usabilidade dos objetos
A memória é, sem dúvida, um dos maiores bens a nível emocional e experimental que o ser humano pode ter. Pode ser confusa, e muitas vezes até pode falhar ‒ não armazena dados como a memória RAM do computador e nem sempre se recorda de tudo o que se passou ‒, mas a memória é um poço de lembranças e experiências que já se teve e que, na maior parte das vezes, se traduz em muitas ações e decisões do nosso quotidiano. O mais curioso é que a memória tem a capacidade de esquecer aquilo de que não se quer lembrar e de se lembrar do que não quer esquecer, e isso não se traduz apenas em sensações mas também em objetos. Exemplo disso é a moda de hoje em dia, na qual nunca estiveram tão presentes vivências do passado (“retro”) – é cíclica. A moda “retro” recupera a usabilidade dos objetos, incorporando inovação, criatividade e qualidade no produto, relacionando assim o fator clássico ao moderno. Frigoríficos antigos que hoje são chamados “retro” como os SMEG, têm a “cápsula” antiga que está novamente na berra, mas o seu interior é (aos olhos do consumidor) total-mente recente e funcional; esse é um exemplo de como tudo é adaptável e mutável no design.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
Acordando
Por
vezes, em voltas e revoltas interiores apercebo-me de certas coisas que
continuam a mexer com a minha ervilha. No decorrer dos dias as coisas acontecem
e com as distrações que encontramos esquece-se as frustrações passadas, mas no
aconchego da noite abre-se um espaço para a reflexão sobre até a mais ridícula
das coisas. Por entre todas as coisas com que me entretenho a pensar ignoro os
desacatos e inutilidades e no final acabo a pensar numa das coisas que sempre
atormenta e revolta o meu ser, “porque é que ainda tratam as pessoas dependendo
do que lhes está no meio das pernas?”.
Há
muito que se diga sobre esse assunto mas penso que deixar que a pergunta
entranhe é a melhor das hipóteses numa primeira abordagem. Até porque por vezes
estamos distantes demais – desvalorizamos e ignoramos o que acontece como quem
está confortável. O pior é que estamos mesmo! Andamos conformados com a
imposição. E por momentos penso: mas o povo está morto?, ou só muito
adormecido?
A história da sexualidade?
“Diz-se
que no início do século XVII ainda vigorava uma certa franqueza. As práticas
não procurava o segredo; as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, as
coisas, sem demasiado disfarce. ” (Foucault, 1988, p.9) No meu “hoje” não é o
caso. As coisas acontecem pela calada, tentando afirmar a inexistência de
qualquer prática, iludindo mais a mim própria do que o resto do mundo a quem
nada devo.
Encontro-me
em “Gestos diretos, discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias
mostradas e facilmente misturadas (…)” (Foucault, 1988, p.9) com este
indivíduo. Como diria Michel Foucault,
“entre divã e discurso”, suor e ideias, sinto uma espontaneidade em partilhar
com a criatura, faz 2 meses. No entanto noto os movimentos rápidos que descrevo,
tentando fugir o mais depressa possível quando caio em mim e me lembro: fui
ensinada que não me devo dar a quem não me promete o mundo. Fui ensinada a não
falar sobre sexo. E não fui ensinada sobre sexo. O assunto foi reprimido. “É
porque se afirma essa repressão que se pode ainda fazer coexistir,
discretamente, o que o medo do ridículo ou o amargor da história impedem a maioria
dentre nós de vincular: revolução e felicidade; ou, então, revolução e um outro
corpo, mais novo, mais belo; ou, ainda, revolução e prazer (…)”(Foucault, 1988,
p.12).
“Roçar
os corpos e os acariciar com os olhos, assim como eletrizar algumas regiões e
intensificar superfícies (…)”(Foucault, 1988, p.44) continua a fazer
parte do nosso instinto pessoal mas ainda assim prosseguimos oferecendo o poder
de controlar (“multiplicidade de correlações de forças imanentes ao domínio
onde se exercem” [Foucault,
1988, p.88-89]) às entidades (família, igreja, etc.) que o pretendem fazer
quanto ao sexo em geral através da aceitação do mesmo como um tabu.
Há que “Falar
contra os poderes, dizer a verdade e prometer o gozo.” (Foucault, 1988, p.13).
Foucault, Michel. (1976). História da Sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro,
Edições Graal, 1988.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
O grande mercado kayan
Estes mercados gerais eram, provavelmente, o que de mais incrível e cheio de potencial teria sido pensado até então.
No entanto, o mercado adquiriu uma estrutra, tornou-se mais arrumado e ordenado, de modo a ser mais acessível e prático. Acabou, todavia, com o atrofiar dos hábitos, dos pensamentos, dos cérebros, ordenando-os numa metodologia de conhecimento, seleccionando, inevitavelmente, as informações.
Uma situação institucionalizada encontra o seu espaço na sociedade, ou seja, é influenciada por ela e a ela influencia. Pára-se de questionar, e aceita-se como óbvia e necessária, qualquer característica da situação; quando as características são apenas adjectivos e não dados constituintes.
A estrutura da escola torna-se mais necessária do que a razão para que foi originariamente criada, e do que aquilo para que, teoricamente, teria que ser precisa. É importante o facto que na escola se reflita automaticamente e rigorosamente a sociedade, tanto como o facto que a escola seja reflectida na sociedade.
Já não se trata da caça à sabedoria, da investigação, da procura, da quête, da tentativa de avançar para um saber superior e útil. A utilidade acaba por se tornar a rotina, a necessidade de ir à escola, de a finalizar para receber aquele pedaço de papel, que é mais reconhecido do que um verdadeiro conhecimento.O conhecimento não comprado ao grande mercado é considerado como de uma “marca falsa”, e a sabedoria produzida fora da certificação do grande mercado é vista como suspeita, tal quanto uma leitura de tarot.
Todavia, a escola criou e fomentou uma estrutura (obviamente o que de mais forte é trasmitido no local proposto ao conhecimento é a forma de aprender); agora quem quer estudar parece que só pode encontrar conhecimento no grande mercado, e os outros conhecimentos encontrados são mal vistos, bagas venenosas.
A escola é estruturada e é um filtro; torna-se filtro, um bloqueio. Como os anéis das mulheres kayan, é bem aceite socialmente, até incentivado, mas acaba por ser a estrutura o que pode matar a construção; torna-se o oposto daquilo para que foi criada.
Já não se trata da caça à sabedoria, da investigação, da procura, da quête, da tentativa de avançar para um saber superior e útil. A utilidade acaba por se tornar a rotina, a necessidade de ir à escola, de a finalizar para receber aquele pedaço de papel, que é mais reconhecido do que um verdadeiro conhecimento.O conhecimento não comprado ao grande mercado é considerado como de uma “marca falsa”, e a sabedoria produzida fora da certificação do grande mercado é vista como suspeita, tal quanto uma leitura de tarot.
Todavia, a escola criou e fomentou uma estrutura (obviamente o que de mais forte é trasmitido no local proposto ao conhecimento é a forma de aprender); agora quem quer estudar parece que só pode encontrar conhecimento no grande mercado, e os outros conhecimentos encontrados são mal vistos, bagas venenosas.
A escola é estruturada e é um filtro; torna-se filtro, um bloqueio. Como os anéis das mulheres kayan, é bem aceite socialmente, até incentivado, mas acaba por ser a estrutura o que pode matar a construção; torna-se o oposto daquilo para que foi criada.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Consequências das acções
Durante a nossa
vida inteira é nos dada a opção de escolha das nossas acções, estas que,
consequentemente, vão ter impacto na nossa vida.
Começa logo
desde pequeninos, como a simples decisão de escolha entre um brinquedo ou
outro, ou que tipo de sabor escolher no gelado. Mas a verdade é que à medida
que o tempo avança, as acções que vamos tomando vão influenciar a nossa vida
cada vez mais e mais, ao ponto de um erro poder alterar o nosso estilo de vida
ou a nossa maneira de pensar. A verdade é que todos cometemos erros.
Às vezes
podemos não tomar as melhores decisões ou simplesmente pensar que uma decisão é
a mais acertada e que de maneira alguma vai dar errado, mas todos sabemos que
nem sempre é assim. Por vezes temos que pôr a mão na consciência, apercebermo-nos
do que nos rodeia e pensar duas ou até três vezes no que vamos fazer a seguir.
É verdade que há vezes em que pode não estar ao nosso alcance e daí não haver
nada que possamos fazer para o impedir, e mesmo assim correr mal para o nosso
lado. Eu acho que é algo bastante natural, todos vamos, eventualmente, errar
vezes sem conta, vamos sentir na pele as consequências e no fim de tudo é
esperado aprender algo sobre elas, porque no final de tudo somos todos humanos
e todos iguais de uma maneira diferente.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
egocinema
“(...) o cinema tem
estruturas de fascínio suficientemente fortes para permitirem a
perda temporária do ego enquanto em simultâneo reforça o ego. A
sensação de esquecer o mundo temporariamente, que o ego depois
percebe (eu esqueço quem sou e onde estou) é uma reminiscência
nostálgica do momento pré-subjectivo do reconhecimento da imagem.
Ao mesmo tempo o cinema salienta-se na produção de ideais de ego
(...)”
Laura Mulvey, O Prazer
Visual e o Cinema Narrativo
Nasci no século 20 e
vivi a passagem para o século 21, desde criança que adoro cinema no
entanto é complicado relembrar o meu sentido crítico dos 0 aos 4
anos, sendo assim, foi no século 21 onde maioritariamente amadureci
o meu gosto cinematográfico. Laura Mulvey, citada acima, refere-se
ao ego como algo quase que moldável perante o cinema. O ego, o
defensor da personalidade tem como principal função procurar um
equilíbrio perante os desejos e a realidade utilizando os valores da
sociedade como elemento intermitente. Sendo esta realidade realizada
pela percepção do próprio indivíduo. O cinema apresenta-nos de
facto realidades, por vezes fictícias, por vezes o argumento de que
uma certa produção é baseada em factos verídicos. Ambas
realidades se apoiam em estruturas de fascínio, no entanto sinto que
este fascínio torna-se facilmente mais alcançável com o progredir
temporal do universo do cinema, onde no presente século 21 o cinema,
nomeadamente o de Hollywood tem se tornado numa indústria de
produção de filmes em massa de um modo preguiçoso. Já vi desde
filmes clássicos a recentes e parece haver uma lenta suavização do
mercado, onde filmes fracos acabam sempre por arranjar multidão e
apoio. A culpa é nossa, pois os nossos interesses estúpidos
permitem a própria produção e quase reciclagem de maus filmes.
Existe uma obsessão com a novidade, e com o progredir da tecnologia
e o aparecimento da internet muitas novidades não o deveriam ser
intituladas tal. Claro que continua um amplo mercado aberto a
criatividade e a grandes ideias a serem criadas, mas o problema está
nesta flexibilidade que proporcionamos ao nosso ego, ao nos
submetermos a fracas e planas ideologias de entertenimento. A
sensação da perda e reforço em simultâneo do ego proporcionada
pelo cinema pode tomar posições bastantes positivas, até com a
produção de ideais de ego, onde podemo-nos inspirar ou guiar certas
ações perante as que vimos nesta realidade perceptivel pelo
visualizador, mas também pode tomar proporções negativas e penso
que o recorrente tentar manipular do ego do visualizador tem
demasiadas liberdades, a que nos submetemos estupidamente, perdendo
valor, o verdadeiro bom cinema.
Objectos Ditadores
Quando o sujeito entra num corredor de uma loja ou supermercado, á procura de um produto que lhe faz falta, a preocupação inicial é a de escolher aquele produto que se enquadra na sua personalidade.
A minha irmã está a entrar na adolescência, e numa ida ao supermercado em que a acompanhei, notei em todo o cuidado a escolher os alimentos para pôr no carrinho das compras. Desde o iogurte com a embalagem rosa e nele escrito um 0% (remete logo ás calorias - cuidado com o corpo); as bolachas-maria, por serem conhecidas como um tipo de bolacha com pouca gordura; a garrafa de água com curvas (forma do corpo da mulher em linha).
Há dois anos a lista de compras seria outra, completamente diferente, apesar dos alimentos serem quase o mesmo na sua essência. O iogurte estaria contido numa embalagem com um desenho animado e adicionalmente vinha um extra de pintarolas; as bolachas seriam na mesma bolacha-maria mas num pacote atraente para uma criança e contidas em saquetas para levar para a escola, a garrafa de água seria também teria no rótulo bonecos...
Os objectos ditam os comportamentos das pessoas.
Tenta-se encontrar a própria personalidade nos produtos que se adquire, ou corresponder á mesma. Num supermercado existe muita variedade, as categorias servem para cada tipo de pessoa/ personalidade.
Não é na sua essência, mas sim na comunicação do produto, que as pessoas procuram semelhanças ao estilo de vida que pretendem ter segundo a ideologia dominante. Essa ideologia não nasce do sujeito. É ditada pelo marketing, ou seja pelos próprios dominadores da produção e distribuição de "não só dos bens, mas também das ideias e significações".
A minha irmã está a entrar na adolescência, e numa ida ao supermercado em que a acompanhei, notei em todo o cuidado a escolher os alimentos para pôr no carrinho das compras. Desde o iogurte com a embalagem rosa e nele escrito um 0% (remete logo ás calorias - cuidado com o corpo); as bolachas-maria, por serem conhecidas como um tipo de bolacha com pouca gordura; a garrafa de água com curvas (forma do corpo da mulher em linha).
Há dois anos a lista de compras seria outra, completamente diferente, apesar dos alimentos serem quase o mesmo na sua essência. O iogurte estaria contido numa embalagem com um desenho animado e adicionalmente vinha um extra de pintarolas; as bolachas seriam na mesma bolacha-maria mas num pacote atraente para uma criança e contidas em saquetas para levar para a escola, a garrafa de água seria também teria no rótulo bonecos...
Os objectos ditam os comportamentos das pessoas.
Tenta-se encontrar a própria personalidade nos produtos que se adquire, ou corresponder á mesma. Num supermercado existe muita variedade, as categorias servem para cada tipo de pessoa/ personalidade.
Não é na sua essência, mas sim na comunicação do produto, que as pessoas procuram semelhanças ao estilo de vida que pretendem ter segundo a ideologia dominante. Essa ideologia não nasce do sujeito. É ditada pelo marketing, ou seja pelos próprios dominadores da produção e distribuição de "não só dos bens, mas também das ideias e significações".
Indelével
Significado de
Indelével
adj. Que não pode ser apagado: tinta
indelével.
Que não se pode extinguir ou destruir; indestrutível.
Figurado. Que o tempo não corrói; permanente: recordação indelével.
pl. indeléveis.
(Etm. do latim: indelebilis.e)
indelével. In: Wikcionário,
o dicionário livre [Em linha]. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016, rev. 29
Agosto 2015. [Consult. 5 jan. 2016]. Disponível em WWW:<https://pt.wiktionary.org/w/index.php?title=indel%C3%A9vel&oldid=1990193>.
Indelével é a
memória no tempo, da escrita e do desenho, efectuados de forma compulsiva,
automática, irracional, com uma constância activa com raras intermitências, que
só parou pela exaustão, para de novo voltar e sobre a qual não temos qualquer
domínio da vontade. Foram semanas e semanas sem abrandamento, nem um real valor
humano que pelo menos, tirasse dali o papel, ou partisse o lápis ou a malvada
da caneta. Não, o ambiente climatérico estava péssimo, induzia ao isolamento no
interior da morada, chovia diariamente, constantemente, e havia uma estranha
humidade no ar que nos fazia doer os ossos o que durou mais de um mês. Nada aparentava que, de repente, no fundo
daquele covil, se desse uma tão inesperada mudança de atitude. Sem aviso
prévio, nem telegrama pontual ou telefonema eventual, o Sol despontou por
detrás das nuvens e algo se transformou. Ela voltou de repente. Era sazonal. Tinha
chegado uns dias mais cedo, disse; querida Prima e a sua maior “amiga”, a Vera.
Foram num sonho de abstracções duas aparições reais. Sobre as quais resolvi
manter um discreto silêncio perante a aldeia. Como ainda ninguém tinha avistado
uma andorinha, verdade foi que duvidaram que a Prima e a Vera tivessem
chegado.… … Não foi um Verão qualquer, nem parecido a muitos outros… A alegria
esteve sempre entre os presentes, desde os adultos, tios, avós, aos minúsculos,
coelhos, cães, gatos, era contagiante a festividade., inclusive sobre um certo
ambiente familiar, mais matriarcal, muito
psicossomático-religioso-hipocondríaco-e-devasta-auto-estimas.
O que continuava
sempre a acontecer era o rio a secar no Verão e as pedras frias a aquecerem no
fogo das salamandras para depois aquecerem os lençóis das camas... fazia
frio...
EM CONTÍNUO… !!!
E recordo-me bem, de todos
os anos elas nos trazerem a alegre certeza de que as estações do ano, e a sua
alegre memória se processavam tal e qual como nos tinham ensinado nas aulas de
Estudos do Meio Ambiente... e o mais adequado era acender lareiras às memórias
de outros tempos em que quando chovia, a terra molhada cheirava bem, enquanto
comíamos as uvas das videiras e as maçãs das macieiras...
Devia ser essa, a tal, a antifonal
metalinguagem musical que nos faz perder os sentidos
em espasmos sonoros de prazer aveludado, dedos famintos, doridos, sobre teclas obscenas,
carentes, exigentes e insaciáveis... As noites foram claras. E tantas, que a
vista chegava a faltar só de tanto querer ler o livro em Branco, o do vadio.
Só esse livro é que contém
as nossas memórias indizíveis. E de tal maneira é Branco que nunca as
conseguimos ler ou ver convenientemente.
E se assim é? Como podem
então ser memórias? Serão recordações? Acho que também não são! Afinal nem
marcas lá deixámos ficar!
Também não somos o vento
passado nem somos o tempo esquecido.
Somos o quê então?
E então? se nem sabemos o
que somos? para quê recordar? recordar o quê?
E se o tempo nos enche a
alma de pressa para não termos tempo de viver com tempo então também não nos
deixa ter tempo para saber em que tempo é que devemos morrer…O que é que resta?
Experimenta encher-te de
vazio; se não existir espaço suficiente, deixa morrer a noite e o dia pois são
eles os que mais nos consomem. Vão
ficar assim cadáveres regulares, uniformes e em sossego, durante bastante
tempo, (penso eu).
E nós, como bichos disformes,
caberemos todos na mesma circunstância cristalina do paraíso.
Mas como o universo é
incansável e teimoso, verás que vai voltar a repetir o ciclo, só por repetir,
desde o início até ao infinito minuto de todo o nosso penar.
Vai Acordar a Lua, vai
adormecer o Sol…
E a nós? Só nos resta
continuar a envelhecer, esse é o nosso inevitável prazer partilhado com o destino,
que o tempo não poderá nunca roubar!
PS: não me recordo de nada
tão mesquinho ou auto-comiserante como perder «tempo» a redigir memórias que só
o tempo tem…
São só espasmos sombrios,
são só espasmos indeléveis.
Indelével é a
memória no tempo, da escrita e do desenho, efectuados de forma compulsiva,
automática, irracional, com uma constância activa com raras intermitências, que
só parou pela exaustão, para de novo voltar e sobre a qual não temos qualquer
domínio da vontade. Foram semanas e semanas sem abrandamento, nem um real valor
humano que pelo menos, tirasse dali o papel, ou partisse o lápis ou a malvada
da caneta. Não, o ambiente climatérico estava péssimo, induzia ao isolamento no
interior da morada, chovia diariamente, constantemente, e havia uma estranha
humidade no ar que nos fazia doer os ossos o que durou mais de um mês. Nada aparentava que, de repente, no fundo
daquele covil, se desse uma tão inesperada mudança de atitude. Sem aviso
prévio, nem telegrama pontual ou telefonema eventual, o Sol despontou por
detrás das nuvens e algo se transformou. Ela voltou de repente. Era sazonal. Tinha
chegado uns dias mais cedo, disse; querida Prima e a sua maior “amiga”, a Vera.
Foram num sonho de abstracções duas aparições reais. Sobre as quais resolvi
manter um discreto silêncio perante a aldeia. Como ainda ninguém tinha avistado
uma andorinha, verdade foi que duvidaram que a Prima e a Vera tivessem
chegado.… … Não foi um Verão qualquer, nem parecido a muitos outros… A alegria
esteve sempre entre os presentes, desde os adultos, tios, avós, aos minúsculos,
coelhos, cães, gatos, era contagiante a festividade., inclusive sobre um certo
ambiente familiar, mais matriarcal, muito
psicossomático-religioso-hipocondríaco-e-devasta-auto-estimas.
O que continuava
sempre a acontecer era o rio a secar no Verão e as pedras frias a aquecerem no
fogo das salamandras para depois aquecerem os lençóis das camas... fazia
frio...
EM CONTÍNUO… !!!
E recordo-me bem, de todos
os anos elas nos trazerem a alegre certeza de que as estações do ano, e a sua
alegre memória se processavam tal e qual como nos tinham ensinado nas aulas de
Estudos do Meio Ambiente... e o mais adequado era acender lareiras às memórias
de outros tempos em que quando chovia, a terra molhada cheirava bem, enquanto
comíamos as uvas das videiras e as maçãs das macieiras...
Devia ser essa, a tal, a antifonal
metalinguagem musical que nos faz perder os sentidos
em espasmos sonoros de prazer aveludado, dedos famintos, doridos, sobre teclas obscenas,
carentes, exigentes e insaciáveis... As noites foram claras. E tantas, que a
vista chegava a faltar só de tanto querer ler o livro em Branco, o do vadio.
Só esse livro é que contém
as nossas memórias indizíveis. E de tal maneira é Branco que nunca as
conseguimos ler ou ver convenientemente.
E se assim é? Como podem
então ser memórias? Serão recordações? Acho que também não são! Afinal nem
marcas lá deixámos ficar!
Também não somos o vento
passado nem somos o tempo esquecido.
Somos o quê então?
E então? se nem sabemos o
que somos? para quê recordar? recordar o quê?
E se o tempo nos enche a
alma de pressa para não termos tempo de viver com tempo então também não nos
deixa ter tempo para saber em que tempo é que devemos morrer…O que é que resta?
Experimenta encher-te de
vazio; se não existir espaço suficiente, deixa morrer a noite e o dia pois são
eles os que mais nos consomem. Vão
ficar assim cadáveres regulares, uniformes e em sossego, durante bastante
tempo, (penso eu).
E nós, como bichos disformes,
caberemos todos na mesma circunstância cristalina do paraíso.
Mas como o universo é
incansável e teimoso, verás que vai voltar a repetir o ciclo, só por repetir,
desde o início até ao infinito minuto de todo o nosso penar.
Vai Acordar a Lua, vai
adormecer o Sol…
E a nós? Só nos resta
continuar a envelhecer, esse é o nosso inevitável prazer partilhado com o destino,
que o tempo não poderá nunca roubar!
PS: não me recordo de nada
tão mesquinho ou auto-comiserante como perder «tempo» a redigir memórias que só
o tempo tem…
São só espasmos sombrios,
são só espasmos indeléveis.
Será necessário?
Segmentar significa separar em grupos, as pessoas que
possuem os mesmos comportamentos, desejos ou necessidades. Em busca de um maior
número de vendas e com o intuito de agradar cada vez mais, começou a
segmentar-se o público em categorias. Esta segmentação permite que se façam
mais versões do mesmo produto, de forma a agradar um maior número de
consumidores tornando a escolha também cada vez maior. O objetivo é que as
pessoas se identifiquem com o produto de forma a levá-las a consumir. No
entanto, com esta segmentação tão grande, começam a ser os próprios objetos que
ditam às pessoas como é que elas próprias se comportam.
No mundo publicitário, grande parte dos anúncios são
separados por géneros. Existem produtos feitos para o sexo feminino e outros
para o sexo masculino. Mas, numa sociedade consumista, o género feminino é o
mais procurado. Apesar de vivermos num mundo essencialmente machista, a
publicidade é maioritariamente direcionada para o género feminino. Hoje em dia torna-se
mais caro ser mulher, não no sentido real, mas no sentido realidade. Isto é, é
esperado que a mulher consuma mais que o homem. Mesmo sem ter consciência, é
'obrigada' a gastar x. Isto também é percetível quando a maior parte das lojas dos
centros comerciais estão direcionadas para o sexo feminino.
Desta forma, as diferenças de género têm sido cada vez
mais evidenciadas. Embora disfarçadas, uma vez que antes era visível esta
diferença aos olhos, através da lei, atualmente não é comum pensarmos ou
interrogarmo-nos acerca deste assunto, ficando disfarçado pela nossa própria
sociedade. Somos todos moldados pelo que nos rodeia, em termos ideológicos.
Todos nós pertencemos a um destes dois géneros e, por vezes, acaba por ser
também a publicidade que nos define na sociedade. É também esta que interioriza
as diferenças e acaba muitas vezes por acentuá-las.
Isto é tão evidente que podemos observar esta diferença e
esta segmentação num simples produto da marca Dove. Quando esta marca, que já
existe há bastante tempo, decidiu fazer uma extensão, entrando no mundo
masculino. Sentiu necessidade de uma alteração. Isto talvez porque a marca 'não tinha um ar masculino, principalmente
com a letra em itálico e com a forma de um pássaro no logótipo'. Desta forma, 'Dove
+ Men Care' com letras grandes e um fundo cinzento escuro passaram a ser a
forma de a marca representar o produto masculino, centrando-se numa imagem
menos delicada, mais dura e masculina.
É cada vez mais comum os produtos serem separados por
sexos, somos cada vez mais deparados com uma segmentação no mercado. Dividir
por género sempre foi uma das formas mais simples e clássicas de segmentação. É
mais fácil chegar a um maior número de consumidores e a variados perfis.
Mas será assim tão necessário que existam carros ou canetas exclusivas e direcionadas para o sexo feminino? É certo que os homens e as mulheres tem comportamentos e necessidades diferentes no entanto, estas têm sido, a meu ver, exageradas pelas estratégias de marketing.
Mas será assim tão necessário que existam carros ou canetas exclusivas e direcionadas para o sexo feminino? É certo que os homens e as mulheres tem comportamentos e necessidades diferentes no entanto, estas têm sido, a meu ver, exageradas pelas estratégias de marketing.
Tendências
A moda uniformiza necessidades, simultaneamente cria diferenças e separações, a moda de hoje, é diferente á de ontem, e á de amanhã. Os ciclos criam as modas, e por sua vez as classes criam os ciclos. O que é usado pelas classes altas, rapidamente cria a necessidade, nas classes mais baixas de usar também, assim que se dá a apropriação desses objectos, as classes altas abandonam-nos e criam uma nova moda.
No entanto, as jardineiras foram um item de vestuário que não iniciou o seu ciclo nas classes altas, foi exactamente o oposto. As jardineiras surgiram no meio operário, foram inicialmente usadas no início do século XX como roupa de protecção para mecânicos nos EUA. Com a primeira guerra mundial, as vestes foram radicalmente racionalizadas, adotando soluções mais funcionais. O papel da mulher teve também grandes mudanças, com a guerra, o trabalho feminino tornou-se necessário. Usar saias em fábricas não teria sido muito prático, assim as mulheres adotaram, tal como os homens, a jardineira. Mais tarde, pelo seu caracter prático e confortável começaram a ser usadas na roupa infantil. Só nos anos 60 se tornou um ícone de moda, sendo visto como um item causal, descontraído e confortável. Nos anos 70 as jardineiras tornaram-se um item que todos os jovens tinham no armário, reinterpretadas, existiam modelos com os mais diversos tecidos e formas.
Hoje deparamo-nos com um revivalismo dos anos 70:
“As jardineiras podem ser um “must-have” desta estação, em ganga, renda, ou tecido, tornam-se na peça chave para um look prático e fashion.”
“É uma peça que funciona e que se adapta aos mais diversos estilos dependendo de como as conjugamos. Podem ser usadas ao final do dia para uma ocasião mais “chick” ou para um passeio descontraído durante o dia ou fim-de-semana.”
Surgem novamente, enunciadas pelo seu caráter prático, mas principalmente pela sua variedade. Cores, tecidos e formas para todos os gostos e ocasiões, e como todas as tendências na moda actual, “as celebridades já as estão a usar”.
A moda é um bom exemplo da dinâmica de criação de uma sociedade, demonstra a tendência de igualização social e por sua vez também a necessidade da diversidade e individualidade entre grupos e classes.
O Mundo em que vivemos
“Reza a lenda que se parares de olhar para o telemóvel e olhares para cima,
verás o céu, pessoas, árvores e pássaros”.
É uma citação, que li recentemente nas redes sociais e isso
fez-me refletir imenso, sobretudo por ser uma revelação, que ilustra bem o dia
de hoje, onde milhares de pessoas estão viciadas em tecnologias, que inclui as
suas respostas técnicas aos desafios da natureza. Ao olharmos á nossa volta, só
vemos tecnologias… televisão, computador, telemóvel, mp3, fones, torradeira, frigorífico,
entre outros. E as pessoas sempre com olhar fixo nos telemóveis. No metro,
todas as pessoas tem um olhar frio, tendo sempre a manusear os telemóveis, com
exceção dos mais idosos.
Há milhões, milhões de anos atrás, todos nós erámos macacos,
Homo sapiens a viver em cavernas, viver totalmente em contato com a natureza,
criando os seus próprios instrumentos como modo de sobrevivência. Descobriram o
fogo, descoberta incrível na altura e agora, recebe já como herança as técnicas
de acomodação e transformação da natureza, que a sua comunidade foi acumulando
como resposta ao desafio do meio ambiente. Dizer que o homem é um animal cultural
significa que é produtor de objetos materiais e simbólicos, porque qualquer sociedade
só se realiza e perpetua através da cultura. Cada objeto que um homem cria é um
objeto de substituição. Por exemplo, os computadores, telemóveis e outras tecnologias
estão sempre a surgir cada vez mais sofisticados e com inovações técnicas. Isso
prova que tudo vai mudando com o tempo, as coisas evoluem cada vez mais e mais rapidamente,
onde prevalecem os valores tecnicistas da sociedade industrial, criativa de
progresso e inovação. É evidente, que como em todo o progresso existem
vantagens e desvantagens.
A vantagem é que temos acesso imediato à comunicação e à
informação e os avanços registados na Medicina permite aumentar a esperança da
vida. As tecnologias permitem ao mundo ser mais pequeno, o que se passa do
outro lado sabe-se rapidamente e isso é bom, mas, por outro lado, estamos a
evoluir muito rapidamente, e a criar um muno artificial, em que as novas
tecnologias acabam por absorver e consumir totalmente a alma das pessoas.
As pessoas de hoje em dia são cada vez mais frias, calculistas,
egoístas e, por outro lado mais ignorantes em relação ao mundo natural, sem a
sua intervenção e penso que, as novas tecnologias e a sua rápida evolução,
transformado pela ação do homem, criou um mundo artificial, onde é bem
conhecido o papel da poluição industrial sobre uma natureza progressivamente
degradada.
Em conclusão, vou apresentar um vídeo de música “Stromae-
Carmen” adequado a este contexto. Este vídeo mostra o conceito de consumismo social
atualmente e chama a tenção para as suas consequências. A música, cujo
personagem é um o pássaro azul, que representa o consumismo, que influencia o
ser humano. Considero, que está aqui bem representado e muito clara a mensagem,
que nos pretende transmitir.
domingo, 3 de janeiro de 2016
Seres Binários
Quando trazemos o tema “alienação” para discussão a primeira coisa que pensamos e criticamos é o consumismo desenfreado que praticamos e, apesar de fazer sentido, acho muito repetitivo. Tenho certeza de que todos sabem que a sociedade em que vivemos depende desse consumismo e do abuso da mídia, mas se esquecem de que somos nós que formamos a sociedade e que a mídia é apenas um conjunto de meios de comunicação e não um monstro com poderes especiais. A quantidade de pessoas que reclama “a mídia nos faz pensar isso e aquilo” é extraordinária, e nem sequer tentam mudar o pensamento, apenas reclamam. Nós utilizamos esses meios de comunicação como bem entendemos, e as grandes empresas também, o problema da maioria é não achar um equilíbrio, e quando não conseguem culpam um ser inexistente. Mas o consumismo não é a principal ideia de que quero discutir, e pessoalmente é um assunto muito mais importante. É engraçado como criticamos, primeiro, coisas maravilhosas como o celular e a internet(meios de comunicações) que quando utilizados corretamente são fantásticos, e não os ideais que somos praticamente obrigados a “engolir”, como por exemplo: a constante divisão entre os gêneros feminino e masculino.
Quando um casal descobre que estão esperando um bebê a principal duvida é de sexo será, e quando obtêm a resposta as listas de nomes e de presentes começam. Antes mesmo da criança nascer várias pessoas já estão criando um caminho para esse indivíduo, e ele tem apenas duas opções: se for menino, a maioria das coisas será azul, brinquedos de ação, carros, bonecos de luta etc, se for menina, todas as roupas serão cor de rosa, ou, se tiver sorte, roxas com várias bonecas e cozinhas de brinquedo.
Ensinamos desde cedo que esse é o “certo”, o “normal”, o que é esperado de cada um deles. A quantidade de crianças que são criticadas e repreendidas por gostarem de coisas que não são consideradas “aceitáveis” pelo seu determinado gênero é absurda e não faz sentido nenhum. Obviamente uma garota pode gostar de coisas de garoto e vice versa, e quem decide o que é aceitavel um garoto fazer ou não? Não somos tão binários a esse ponto, parece que criamos uma lista de atributos e tentamos colocar as pessoas nesses grupos de acordo com essas características. Não é porque um garoto não gosta de futebol que ele será menos masculino, e não é porque uma garota gosta que será mais “masculina”.
Muitas crianças crescem achando que não deviam pertencer a determinado sexo pelo seus gostos, me lembro de muitas amigas que com 7 anos de idade afirmavam que preferiam ser garotos porque poderiam gostar das coisas que gostam sem julgamento. Meninas com essa idade se sentindo culpadas e desconfortaveis nos próprios corpos por quererem brincar de luta, não deixamos essas crianças explorarem caminhos diferentes. É assustador, porque estamos tão ocupados dizendo o que eles devem ser e acabamos não dizendo o que eles podem ser.
sábado, 2 de janeiro de 2016
O céu é a única coisa
Olho em volta, e numa fração de segundo, e sem realmente prestar muita atenção, tudo o que distingo são as provas da vida Humana percetíveis sobre tudo o resto. À exceção do azul, rodeado pelas construções que lhe conferem uma moldura rectangular perfeita. Naquele dia, o limite do céu e do mar era incerto, ténue talvez, pois o tom similar não permitia a distinção entre ambos. Imagino este lugar quando o conceito de arquitectura ainda não era algo consciente daqueles que a criavam apenas para se protegerem das condições adversas. Quão diferente seria o céu?
O modo como a evolução marcou a "incompatibilidade" do Homem (e tudo o que a palavra "Homem" engloba) com a Natureza, como que ignorando a necessidade que ambos têm um do outro, mas ao mesmo tempo, conscientes da mesma. Conscientes, através das extrações que fazem dela, as que permitem a criação para satisfazer as necessidades básicas, mas até mesmo as mais acessórias e as que sustêm o ser humano, que apesar da sua complexidade, o facto de não conhecermos a vida sem elas, torna-as simples como respirar.
“O trabalho é antes de tudo um processo entre o homem e a natureza, um processo no qual o homem por sua atividade realiza, regula e controla suas trocas com a natureza. Ele põe em movimento as forças naturais que pertencem à sua natureza corporal, braços e pernas, cabeças e mãos, para se apropriar das substanciais naturais sob uma forma utilizável para sua própria vida. Agindo assim, por seus movimentos sobre a natureza exterior e transformando-a, o homem transforma ao mesmo tempo a sua natureza”. MARX (2001, p. 211).
Ignorando na medida em que destrói. Destrói o que respira, destrói o que come, destrói o que vê e o que ouve.
Constrói novos edifícios, novas fábricas, novas estradas, novas guerras. Constrói uma economia. E esta simples palavra justifica qualquer acto que possa ser considerado imoral.
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