segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

egocinema

“(...) o cinema tem estruturas de fascínio suficientemente fortes para permitirem a perda temporária do ego enquanto em simultâneo reforça o ego. A sensação de esquecer o mundo temporariamente, que o ego depois percebe (eu esqueço quem sou e onde estou) é uma reminiscência nostálgica do momento pré-subjectivo do reconhecimento da imagem. Ao mesmo tempo o cinema salienta-se na produção de ideais de ego (...)”

Laura Mulvey, O Prazer Visual e o Cinema Narrativo


Nasci no século 20 e vivi a passagem para o século 21, desde criança que adoro cinema no entanto é complicado relembrar o meu sentido crítico dos 0 aos 4 anos, sendo assim, foi no século 21 onde maioritariamente amadureci o meu gosto cinematográfico. Laura Mulvey, citada acima, refere-se ao ego como algo quase que moldável perante o cinema. O ego, o defensor da personalidade tem como principal função procurar um equilíbrio perante os desejos e a realidade utilizando os valores da sociedade como elemento intermitente. Sendo esta realidade realizada pela percepção do próprio indivíduo. O cinema apresenta-nos de facto realidades, por vezes fictícias, por vezes o argumento de que uma certa produção é baseada em factos verídicos. Ambas realidades se apoiam em estruturas de fascínio, no entanto sinto que este fascínio torna-se facilmente mais alcançável com o progredir temporal do universo do cinema, onde no presente século 21 o cinema, nomeadamente o de Hollywood tem se tornado numa indústria de produção de filmes em massa de um modo preguiçoso. Já vi desde filmes clássicos a recentes e parece haver uma lenta suavização do mercado, onde filmes fracos acabam sempre por arranjar multidão e apoio. A culpa é nossa, pois os nossos interesses estúpidos permitem a própria produção e quase reciclagem de maus filmes. Existe uma obsessão com a novidade, e com o progredir da tecnologia e o aparecimento da internet muitas novidades não o deveriam ser intituladas tal. Claro que continua um amplo mercado aberto a criatividade e a grandes ideias a serem criadas, mas o problema está nesta flexibilidade que proporcionamos ao nosso ego, ao nos submetermos a fracas e planas ideologias de entertenimento. A sensação da perda e reforço em simultâneo do ego proporcionada pelo cinema pode tomar posições bastantes positivas, até com a produção de ideais de ego, onde podemo-nos inspirar ou guiar certas ações perante as que vimos nesta realidade perceptivel pelo visualizador, mas também pode tomar proporções negativas e penso que o recorrente tentar manipular do ego do visualizador tem demasiadas liberdades, a que nos submetemos estupidamente, perdendo valor, o verdadeiro bom cinema.