“(...) o cinema tem
estruturas de fascínio suficientemente fortes para permitirem a
perda temporária do ego enquanto em simultâneo reforça o ego. A
sensação de esquecer o mundo temporariamente, que o ego depois
percebe (eu esqueço quem sou e onde estou) é uma reminiscência
nostálgica do momento pré-subjectivo do reconhecimento da imagem.
Ao mesmo tempo o cinema salienta-se na produção de ideais de ego
(...)”
Laura Mulvey, O Prazer
Visual e o Cinema Narrativo
Nasci no século 20 e
vivi a passagem para o século 21, desde criança que adoro cinema no
entanto é complicado relembrar o meu sentido crítico dos 0 aos 4
anos, sendo assim, foi no século 21 onde maioritariamente amadureci
o meu gosto cinematográfico. Laura Mulvey, citada acima, refere-se
ao ego como algo quase que moldável perante o cinema. O ego, o
defensor da personalidade tem como principal função procurar um
equilíbrio perante os desejos e a realidade utilizando os valores da
sociedade como elemento intermitente. Sendo esta realidade realizada
pela percepção do próprio indivíduo. O cinema apresenta-nos de
facto realidades, por vezes fictícias, por vezes o argumento de que
uma certa produção é baseada em factos verídicos. Ambas
realidades se apoiam em estruturas de fascínio, no entanto sinto que
este fascínio torna-se facilmente mais alcançável com o progredir
temporal do universo do cinema, onde no presente século 21 o cinema,
nomeadamente o de Hollywood tem se tornado numa indústria de
produção de filmes em massa de um modo preguiçoso. Já vi desde
filmes clássicos a recentes e parece haver uma lenta suavização do
mercado, onde filmes fracos acabam sempre por arranjar multidão e
apoio. A culpa é nossa, pois os nossos interesses estúpidos
permitem a própria produção e quase reciclagem de maus filmes.
Existe uma obsessão com a novidade, e com o progredir da tecnologia
e o aparecimento da internet muitas novidades não o deveriam ser
intituladas tal. Claro que continua um amplo mercado aberto a
criatividade e a grandes ideias a serem criadas, mas o problema está
nesta flexibilidade que proporcionamos ao nosso ego, ao nos
submetermos a fracas e planas ideologias de entertenimento. A
sensação da perda e reforço em simultâneo do ego proporcionada
pelo cinema pode tomar posições bastantes positivas, até com a
produção de ideais de ego, onde podemo-nos inspirar ou guiar certas
ações perante as que vimos nesta realidade perceptivel pelo
visualizador, mas também pode tomar proporções negativas e penso
que o recorrente tentar manipular do ego do visualizador tem
demasiadas liberdades, a que nos submetemos estupidamente, perdendo
valor, o verdadeiro bom cinema.