“Diz-se
que no início do século XVII ainda vigorava uma certa franqueza. As práticas
não procurava o segredo; as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, as
coisas, sem demasiado disfarce. ” (Foucault, 1988, p.9) No meu “hoje” não é o
caso. As coisas acontecem pela calada, tentando afirmar a inexistência de
qualquer prática, iludindo mais a mim própria do que o resto do mundo a quem
nada devo.
Encontro-me
em “Gestos diretos, discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias
mostradas e facilmente misturadas (…)” (Foucault, 1988, p.9) com este
indivíduo. Como diria Michel Foucault,
“entre divã e discurso”, suor e ideias, sinto uma espontaneidade em partilhar
com a criatura, faz 2 meses. No entanto noto os movimentos rápidos que descrevo,
tentando fugir o mais depressa possível quando caio em mim e me lembro: fui
ensinada que não me devo dar a quem não me promete o mundo. Fui ensinada a não
falar sobre sexo. E não fui ensinada sobre sexo. O assunto foi reprimido. “É
porque se afirma essa repressão que se pode ainda fazer coexistir,
discretamente, o que o medo do ridículo ou o amargor da história impedem a maioria
dentre nós de vincular: revolução e felicidade; ou, então, revolução e um outro
corpo, mais novo, mais belo; ou, ainda, revolução e prazer (…)”(Foucault, 1988,
p.12).
“Roçar
os corpos e os acariciar com os olhos, assim como eletrizar algumas regiões e
intensificar superfícies (…)”(Foucault, 1988, p.44) continua a fazer
parte do nosso instinto pessoal mas ainda assim prosseguimos oferecendo o poder
de controlar (“multiplicidade de correlações de forças imanentes ao domínio
onde se exercem” [Foucault,
1988, p.88-89]) às entidades (família, igreja, etc.) que o pretendem fazer
quanto ao sexo em geral através da aceitação do mesmo como um tabu.
Há que “Falar
contra os poderes, dizer a verdade e prometer o gozo.” (Foucault, 1988, p.13).
Foucault, Michel. (1976). História da Sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro,
Edições Graal, 1988.